"É como se eu pegasse na palavra e jogasse a palavra numa parede. Ela cai no chão estilhaçada. Com os cacos da palavra eu componho outras."
"É como se eu pegasse uma palavra e jogasse na parede. Ela cai no chão estilhaçada. Com os cacos da palavra eu componho outras e, de repente, com aquela composição eu consigo uma coisa que pode ser um assunto meio filosófico, uma coisa cômica, às vezes poética, às vezes pornográfica."
No documentário Sonia Lins, de Daniel Zarvos, é assim que a artista descreve o processo de composição dos poemas publicados no livro És tudo (1999). Humor e reflexão introspectiva dão o tom da maioria dos textos, muitas vezes compostos de jogos de significado a partir de uma palavra: "Morder / E depois / Murder".
No filme, Sonia conta que aproveitava as noites de insônia para escrever. "Às vezes eu passava a noite toda brincando com as palavras". As madrugadas em claro geravam "um tal estado de exaustão que (...) chegava naquela zona de criação que existe dentro da cabeça da gente. Eu tinha as melhores ideias".
Deve ter sido numa dessas noites, em 1999, que ocorreu a Sonia imprimir És tudo em um rolo de papel higiênico. O amigo Odilon Vieira Ladeira colaborou no projeto: "Ela queria em papel higiênico de verdade, mas era impossível. Então fizemos no papel mais simples que achamos. Eles imprimiam os poemas numa bobina de papel, cortavam na largura de um papel higiênico e depois picotavam". Os livros em formato de rolos seriam atração na mostra Se é para brincar eu também gosto (2000), no Rio de Janeiro.
Em 2000, o livro também ganhou uma edição caprichada, ilustrada por desenhos e grafismos da própria Sonia, com prefácio da especialista em literatura Maria José de Queiroz.