Eu

"O desenho que eu fazia com a palavra ‘eu’ tinha a ver comigo, com você. Eu queria que todo mundo participasse do sentimento que estava na minha cabeça."

No seu Almanaque, Sonia Lins já havia investido no desenho, produzindo as ilustrações para as anedotas e máximas que compõem o volume. Por volta do ano de 1998, inventou um novo projeto, que levaria o seu desenho a um novo patamar de refinamento. Certo dia, lápis em punho, tentou desenhar a própria impressão digital, formando as linhas com a palavra "eu" em letra miúda. Ali começou a série de desenhos Eu: rostos, personagens, animais formados pela palavra-pincelada, fragmento de significado tornado plástico.

A partir do convite da amiga Heloísa Lustosa para expor os trabalhos no Museu Nacional de Belas Artes, Sonia atirou-se ao trabalho com uma disciplina e empenho que até então nunca experimentara. A encomenda de Heloísa era que fizesse 60 desenhos: boa parte deles foi exibida na mostra Se é para brincar eu também gosto, em 2000. Sonia escolheu 40 deles para compor o livro Eu, primorosa edição em papel especial, com folhas soltas, aberta por um dos seus textos. A artista era a sua crítica mais rigorosa.

"O desenho, como tudo que eu faço, tem um processo. (...) Vou trabalhando com o objetivo de chegar até a última coisa que eu possa fazer com ele. Se acontece que eu perca o desenho, fico feliz porque rasgo na mesma hora. Eu não tenho dificuldade de fazer a triagem", contou Sonia, em entrevista à jornalista Marília Gabriela. Quando errava o desenho, Sonia preferia não repeti-lo: "Ou eu salvo o desenho ou não consigo fazer o que quero. O primeiro que você faz sai o melhor de todos; quando você repete já não tem a mesma qualidade do primeiro. Porque o primeiro você trabalha numa espécie de encantamento, o segundo você já trabalha com a rotina da repetição".

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