Sonia Lins
Estória de menina que saiu de casa enquanto outros dormiam e ela sonhava. Não sabia por que mais sabia que a casa queria defecá-la e menina saiu escorregando pelos degraus do alpendre.
Pegou estrada e pernas puseram-se em movimento. Verde leste oeste. Sul sob pés terra vermelha. Estrada se contorcia em cólicas e antes que curva chegasse menina torcia pescoço vendo casa desaparecer pensando como voltar sem mesmo saber onde queria chegar. Estrada deixou uma das curvas engolir casa e desaparecida passou casa a ser apenas lugar onde devia acordar.
Estrada coalhada de curvas era um grande saca-rolha deitado onde pés pisavam vermelho. Casa desaparecida era ímã dentro de cabeça de menina enquanto estrada esticando e encolhendo sanfonava música sem som.
Uma praça se estendeu como lençol branco debaixo de pés que não mais obedeciam ordem de marchar até entrar em casa e banco convidou menina a nele se sentar.
Pássaros folhas penas de árvore voavam. Menina percorria com olhos casas que se aproximavam para verem sua chegada e uma voz dentro do ouvido lhe disse que ela sabia onde morava e só não sabia que sabia.
Menina se levantou e foi olhar de frente uma das casas. Os mesmos degraus da escada do alpendre onde escorregara estavam lá mas a casa mantinha a boca fechada. Não tinha mais porta para ela entrar.
Menina pegou peso de escada nos ombros tentando passar por janela aberta debaixo do telhado. Um armário tinha sido colocado de costas contra a janela não deixando que ela passasse pela abertura que a casa lhe dava e tomava.
Menina empurrou armário pedindo passagem e pulou janela de fora para dentro e viu que o dentro da casa era o fora. Móveis tinham ido embora levando com eles os que dormiam enquanto menina sonhara.