Prefácio de "O Livro da Ávore"

Hanna Szulc

Soninha:

Você arrancou um mangrove que crescia na lama. Limpou-o, maquiou-o, afinou-o e fez dele uma dama que, na ponta dos pés, pousou graciosa como uma dançarina de sapatilhas no canto de uma sala.

Vieram as crianças, viram essa escultura viva, começaram a desenhar árvores que viravam bandeiras e bandeirinhas, árvores fantásticas, a árvore encantada que murcha e refloresce dentro de cada um de nós.

A árvore virou livro, um livro que precisa de poucas palavras. Árvore, imagem verde, branca e preta. Folhas viraram passarinhos, passarinhos viraram folhas em férias.

Foram-se as crianças e veio o homem. Arrancou as árvores, buscando seu caminho, seu habitat no meio da floresta. A paisagem desolada ficou de luto. Mas você com esse olho de raio X olhou o pulmão humano e descobriu nele a árvore da vida, que faz parte do pulmão, esse pulmão que nós tanto poluímos com nossa mania de autodestruição.

Numa página branca, transparente, você plantou sua árvore com letrinhas a, r, v, o, r, e. A página não é grande, mas a árvore parece gigante. Vi-a ontem à tarde e sonhei com ela à noite. Estava crescendo, crescendo, até que os galhos entraram pela janela do meu quarto. Eu voei e desci para a rua e comecei a brincar com letrinhas-folhas, letrinhas-galhos e letras-raízes.

Ventava um pouco, as letras formavam as palavras ar, o v aparecia e desaparecia de repente como o v da vida, cruzada com a palavra ar no espaço e os rr sólidos amparavam as letras-folhas.

Voltaram as crianças. Brincando arrancavam as pequenas folhas das letrinhas o. Os pássaros pousaram nos v, eu encostei num R de um tamanho um pouco maior. Me senti amparada e bem apoiada. Tudo era murmúrio, um leve movimento, um belo filme de desenho animado.

Soninha, você conseguiu plantar sua árvore. Vamos dar a mão a ela.

Hanna Szulc