"Tenha a coragem de jamais queimar uma árvore."
Rasgada pela Transamazônica, alvo de faraônicos projetos de desenvolvimento, a Amazônia era considerada, essencialmente, uma fronteira a ser desbravada e explorada economicamente, no Brasil do início dos anos 1980. A imprensa e ecologistas, entretanto, começavam a alertar sobre o desmatamento de milhões de hectares de florestas. Aos 65 anos, Sonia Lins viu os sinais de fumaça ao criar, em 1984, o seu Livro da Árvore, um manifesto poético e gráfico contra queimadas.
Para isso, Sonia devastou a coleção de revistas National Geographic dos netos. Dali saiu o material para as colagens que compõem o livro. "Nunca tinha feito colagem na vida, mas tinha uma artista aqui, chamada Hanna Szulc, que me deu uma noção. Eu, muito rápida, aprendi tudo e fiz o livro. Quis fazer um livro mais visual do que para ler. Fiz com que as páginas fossem soltas, para fazer um livro bem livre", contou Sonia, em entrevista à sobrinha Marilia Andrade.
Um dos destaques da obra é um mapa do Brasil composto de imagens de queimadas. "Tive a ideia de fazer quando estava indo pra Bahia e olhei aquelas árvores queimadas pelas fábricas de carvão", lembrou a artista. Além de um poema-manifesto, o livro ainda traz a reprodução de um trabalho que seria mostrado na exposição Se é para brincar eu também gosto. Pacientemente recortadas uma a uma, letras de vários tamanhos e formas coladas sobre papel de grandes dimensões formam galhos e folhas de uma árvore.
Elogiado por escritores como Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Resende e Rubem Braga, Livro da árvore foi lançado em dezembro de 1985, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. No coquetel, um dos assuntos era a construção de um edifício na antiga casa onde morara a família de Sonia. Para isso, seria necessário derrubar uma árvore de 90 anos.