Não adiantava. Sonia não seria uma boa menina.

Ela enxergava o mundo com independência e irreverência. Era como se estivesse mergulhada nesse universo e deslocada dele ao mesmo tempo. O humor era uma das ‘janelas’ que ela abria para arejar um pouco a realidade da casa, marcada por uma disciplina rígida e, às vezes, opressiva demais.

Pitu, a filha do dr. Alexandre, sempre se impressionou com a capacidade da amiga, quatro anos mais jovem, de se divertir com o "mundo dos adultos". Numa ocasião, elas brincavam juntas em frente à casa de Jair quando uma senhora parou para perguntar se Sonia era filha de Ruth e saber sua idade.

– Sete anos? Mas não parece – ela disse, enquanto examinava a menina franzina.

A reação veio rápida.

– É que sou muito conservada.

Já estavam delineados em Sonia os traços que a acompanhariam ao longo da vida: o espírito de ironia, o senso crítico apurado, os comentários ácidos, certeiros.