Horas antes do vernissage de Se é para brincar eu também gosto, no Museu Nacional de Belas Artes, Sonia foi conferir a montagem da sua primeira exposição. Ao voltar para casa, sua mente inquieta já se perguntava qual seria o próximo projeto. "Olhei pro céu e vi uma nuvem meio enroscada. Pensei: vou fazer uma exposição sobre o umbigo".

"Saí de uma impressão digital  a minha – voltei para o meu eu querendo chegar ao eu dos outros", escreveu Sonia, no texto em que enumerou, de forma clara, a proposta da exposição. "Foi quando saltou do meu ventre e subiu à cabeça o carimbo que a todos identifica – o umbigo dentro de seu espaço redondo. Mas eu não me contentava com apenas o meu".

Com a mostra Zumbigos, Sonia Lins queria falar do coletivo a partir do traço comum entre todos os seres humanos: a cicatriz deixada pelo cordão umbilical.  Pediu fotos de barrigas ao amigo e cirurgião plástico Ivo Pitanguy e encomendou à fotógrafa Bel Pedrosa a tarefa de clicar 600 umbigos. "Quero que os umbigos sejam vários, anônimos – alguns livres e soltos estendidos na praia – os mais conservadores quase extraídos a fórceps pela insistência da câmera – serão bem recebidos também os negativistas e também os que tiverem tendência a pornografia", escreveu.

A instalação no Museu Nacional de Belas Artes foi concebida como um espaço comprido e em curvas suaves, evocativas de um cordão  umbilical, por onde se entrava passando entre as pernas de uma mulher.  O corpo feminino era desenhado pela palavra zumbigos, obsessivamente repetida.

À entrada, o visitante era recebido pelo vídeo Zumbigos, exibido numa sala circular, onde uma das paredes era forrada pelas fotos de Bel Pedrosa. Seguindo por um corredor vermelho como sangue, ladeado por mais fotos, chegava-se até uma escultura – um tórax de 4 metros de altura, cujo abdômen, com um umbigo proeminente, parecia respirar ruidosamente.

A última sala da mostra inaugurada em 2002 apresentava um novo vídeo, em que pessoas anônimas diziam as inspiradas frases de Sonia sobre umbigos. No teto, a imagem de um céu com nuvens, em que um umbigo-sol brilhava. "É o umbigo de Deus, se ele tiver um", escreveu Sonia ao curador e crítico Guy Brett, responsável por um dos textos do catálogo.