Sonia Lins
Ao descermos do avião uma limousine do tamanho de 1 vagão esperava para nos levar a Oyster Bay. Ao chegarmos encontramos o British sorriso de Bob Garland near the boat que, antes de nos levar para almoçar perguntou qual era a minha opinião sobre o barco. Eu já o havia olhado da ponte do estaleiro mexendo sua pequenez dentro do azul da água. Sua proa, focinho móvel e gelado, fuçava o frio mar como se quisesse se desvencilhar dos cabos que o prendiam a terra. "Pequeno para o meu gosto" respondi decepcionando-o. Era 1 retalho de barco, se fosse 1 vestido certamente me correria a ideia de colocar nele uma bainha postiça. Deixamo-lo balançando como uma criança no berço e fomos almoçar no Bacharat’s. 3 graus acima de zero, vento cortando meu olho e tirando água do nariz, ouvidos completamente bloqueados ao inglês de Bob Garland, bexiga estourando esvaziada em toilette do restaurante que ficava a 500 metros do lugar onde tínhamos sentado. Minha boca encheu-se de vodca que descia esquentando a garganta e minha cabeça foi parar a 3 metros acima do meu corpo. Paulo e Bob conversavam e riam enquanto eu já me balançava no lustre da sala. Num balanço mais forte fui parar no Macy’s onde mulheres de guarda-pós floridos falando língua que eu não podia compreender vendiam cobertores e roupas de cama para o barco. Eram volumes imensos que foram levados num automóvel alugado e conduzidos por nós para dentro do barco em operação ante parto, eu descalça porque só se sobe em barco com sapato de tênis. Desci a escada que sai do cockpit e escorre até a sala onde iríamos tomar todas as refeições daí por diante. Todas as almofadas e colchões tinham saído de seus lugares onde crateras tinham sido abertas a fim de fazerem instalações de tubos coloridos que corriam o interior do barco num sistema nervoso. Não adiantava pedir licença às almofadas e aos colchões para que travesseiros e cobertores pudessem passar, o negócio era abrir caminho com as nádegas já que os braços estavam ocupados. É isso aí. Quando Paulo teve uma mulher de 1 metro e 80, tinha 1 barco de 48 pés, a metade de uma centopeia, mas meus parcos 20 centímetros a menos mereceram apenas 41 pés, espaço onde lutei com volumes fofos e estáticos que me espremiam contra madeiras, metais e degraus até conseguir chegar à cabine em forma de v de volta onde larguei a obesidade dos travesseiros e cobertores apoiados em qualquer lugar que os coubessem. O barco dizia não com todo o seu corpo balançando de 1 lado para outro. Água debaixo dele subia e descia esfriando o seu interior, frio que tinha tomado meus pés de assalto e subia fazendo joelhos baterem palmas. Peguei meu corpo exausto e gelado debaixo de 1 paletó de tricot que jamais seria capaz de esquentá-lo e vociferando de frio na boleia de 1 velho Coogart ao lado de Paulo me dirigi para a casa dos Garlands. Estrada protegida por árvores que tinham perdido todas as folhas e que à noite pareciam sinistras. 10 quilômetros de silêncio meu assunto estava congelado. Virada à esquerda, rampa à vista e de repente casa de Bob e Catherine branca veio nos abraçar dentro de seu semicírculo. Portas abertas sentimos no rosto o bafo da lareira acesa junto com os beijos de Catherine, mulher linda dos anos 50 e que falava inglês com a boca cheia de gelo. As palavras caiam no chão emendadas umas nas outras e eu chegava a me defender com as mãos. 1 whisky foi servido para mim e eu o depositei em cima da mesa em frente o sofá entre bibelots que representavam animais. Quando todos nós levantamos os copos para tomarmos 1 toast ao new boat, segurei 1 cachorro de cristal amarelo sentado sobre a mesa e comecei a bebê-lo. Foi quando me dei conta que o havia confundido com o copo de whisky ao lado. Chegaram então os cachorros de verdade: 1 preto jovem e vivo como uma silhueta. Quando escutava chamarem-no de Taylor dava 1 pulo e olhava para o pompom da cauda para verificar se ele estava ainda pregado na ponta de seu rabo. Sunday que era uma fêmea comprida, olhos de modelo do Vogue, media da cauda ao focinho 6 pés. E havia 1 outro tão velho e branco que tinham que levantá-lo com cuidado para que ele não se desmanchasse e colocá-lo numa cadeira perto da lareira. Me senti igual a esse cachorro. Alheia. Catherine começou a beber e as palavras viraram pedras dentro de sua boca entortando seus dentes de baixo. Paulo contava coisas que eu não entendia, Bob sorria, Catherine já tinha se deslocado escada acima e de lá me chamava para que eu fosse ascender as velas dos castiçais da mesa da sala de jantar. Estranhei quando me levantei, pois me sentia colada ao sofá. E foi comer, tirar mesa e lavar. E lá passamos dormindo, comendo e lavando segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e domingo quando Catherine deu 1 almoço para 20 amigos e o inglês começou a descolar do meu céu da boca e falei e respondi a todos eles que me faziam as mesmas perguntas. Quando todos foram embora tivemos de ir também tomar drink num castelo cheio de tapetes persa habitado por animais de ferro, terracota, porcelana e marfim, prestes a voar, latir, correr pela cozinha onde aranhas de cobre desciam de fios do teto para quase pousarem na mesa cheia de papéis escritos. Defronte do fogão, lugar quente como útero de mãe, cheio de surpresas, 1 pequeno quadro bordado em parede parecia ter sido bordado por Van Gogh, a dona da casa trabalhava com excepcionais, levava todos os bichos para que eles passassem as mãos sem jamais terem sido quebrados. Ela tem 1 barco e uma certa vez ela estava com o marido em alto mar soprou 1 hurricane e ela que não estava amarrada foi jogada fora sendo tirada a tempo d’água, pois se demora mais de 3 minutos a operação morre-se de parada cardíaca por causa do frio. Olhei para as pernas dela. Eram duas colunas de carne vestidas de meia e pareciam firmes no chão.
Fomos para New York e disse adeus a Catherine que me abanava a mão em cujos dedos me acenavam 2 anéis que eram meus e que dei para ela. Tomamos o trem e entramos na grande boca cheia de dentes de luz do Sheraton Center. Quarto decepcionante onde deixamos bagagem para andar a pé, na chuva, pelos números que cresciam e diminuíam em cada esquina, identificando ruas. Chovia, o que fazia com que todos vestissem capas bege e e andassem depressa. Eu pisava na Park Avenue como se estivesse dentro de 1 postal. Rockfeller Center não conseguiu me dar emoção. A dose deve ter sido grande demais. Jantar na Côte Basque servido por mulheres com quem Paulo implicou. No dia seguinte no Perigord, rua onde mora Greta Garbo. Almoço no Pierre com lagosta e Irish Coffe, à noite casa da Diana, almoço no Palm onde fauces inteligentes comiam, O.N.U. visitada, Guggenheim, Museu de História Natural onde ursos vestiam capa de pele do focinho a ponta da unha do pé. Paguei jantar no Relais e Martine Barat de Pantera Cor de Rosa, tomou Martine 1 martini, o que fez sua cabeça rodar, enquanto eu comia pato que me deu dor de barriga antes de tomar trem de volta a Oyster Bay. Vento de 60 km ou nós varrendo gente da rua. Catherine nos esperando com boca cheia de pedras, Bob rindo sobre jaqueta vermelha, era domingo, cachorro silhueta silhuetando para mim, Sunday a cachorra de olhos lânguidos espichando seus pés para o cachorro pequeno e branco envelhecendo em cima de cadeira perto de lareira. Teve 1 estertor e fui ver se tinha morrido. A barriga mexia, a morte tinha sido adiada para a próxima página, nós iríamos dormir nossa primeira noite no barco. Primeiro dia a bordo. 1 homem de boné viu minha bunda quando eu via sua cara através da escotilha do banheiro. Barco desarrumado tinha vomitado todos os objetos para fora dos seus guardados. Zipei a mala preenchendo buracos com roupas e sapatos, abrindo espaço dentro de barco que já parecia maior embora pequeno para conter gestos de André o cozinheiro, que falava com os braços tanto quanto falava com a língua. Noite gelada com 1 único cobertor por pessoa. Cobertores que quando não estávamos deviam ter sido disputados pela tripulação que dormia dentro do barco. Estavam manchados como se estivessem doentes ou porrados. Vesti as pernas nas mangas do manteau que Catherine havia me dado e pela madrugada ao virar na cama meu corpo deu um nó. Dei 1 grito que acordou Paulo e ele foi buscar toalhas de banho pequenas cada uma de uma cor. Toalhas que foram colocadas sobre meu corpo que tremia transformando-o numa flor cheia de pétalas diferentes. Ao acordar 1 salva-vida vermelho como 1 coração batia em cima da minha cabeça e do Paulo, ele 1 casulo dourado todo metido sob cor de cobertor roncando a bombordo.
Fui a Connecticut depois de banho e tremor, transformando a palavra bordo em bordeaux. Casa de Jonh e Luise, almoço no Nino’s, outra vez casa de Luise e John, onde olhei quadros nas paredes da sala, pileque geral que fez Paulo dormir no chão do escritório depois de haver tentado quebrar ovos que Luise tinha sob mesa da copa. Depois de achar os sapatos que eu havia escondido, Paulo e eu nos despedimos de John e do sweater beige saia preta de Luise e erramos todos os caminhos e chegamos a New York onde não queríamos chegar obrigando o guarda do pedágio mandar tirar as divisões da estrada para podermos voltar para Oyster Bay, errando sem parar. Almoçamos onde o barco foi comprado debaixo de chuva e vento também em Oyster Bay onde barco nos esperava upsidedowned foi quando comecei a pensar em me pendurar num avião que passava e voltar para o Brasil. Fui tirar a pintura da cara que não tinha tirado na véspera e o Moon Drops gelou. Mas temos mais 2 cobertores amarelos que fiz Paulo comprar no meio do caminho. Há homens entrando no barco com fios e instrumentos perfuradores e para deixá-los passar é preciso encolher a barriga. Paulo arrumou a cama dele ao lado da minha desarrumada. Estendeu os cobertores e a cabeça branca da grande criança que é já está dormindo. Para esquentar o barco é preciso virar 2 vasos vazios em cima de 2 trempes e acender o gás. Vamos aproveitar e ligar enquanto Paulo dorme, pois ele sempre manda apagar. Hora de jantar fiz arroz e abri lata de feijão. Tripulação com fome entrou por 1 buraco: Roberto 32 anos dentro de sua boa educação, altura mediana, pintado por Diego Rivera.
Em seguida baixaram as pernas de 19 anos do Dudú que depois de sentado contou já ter viajado com uma defunta dentro de 1 caixão, mas como não cabia no avião tiveram de tirar a defunta do caixão, dobrar as suas pernas e sentá-la numa cadeira com cinto e tudo, o que provocou gargalhada que sacudiu todo o corpo retangular do André, deixando ver o branco de seus dentes rodeado do preto do bigode que desaguava de cada lado da barba. No meio de todos nós, Paulo com seu físico de H. Pernas separadas e uma trave no meio. Podiam colocá-lo de cabeça para baixo, seria sempre o Paulo que eu já conhecia em todos os seus encaixes, como um velho jogo de puzzle. O fogão nos aquece com seu fogo e as panelas não são mais virgens. No 3º dia a bordo me dei conta que também eu faço parte da tripulação. Sou uma mulher pequena com uma espinha psicológica no queixo. Está aí há 3 meses e pode-se fazer a navegação através dela. Às vezes o comandante quer dormir comigo e é quase legal, mas sempre falta cama debaixo da gente. E em cima o vento dedilha os arames do mastro enchendo-o de cócega o que faz o barco gargalhar. É isso, moramos dentro de uma hiena que ri da gente. Paulo se levantou e foi-se lavar. Fez barba e sobre o underwear seu grande sweater tomou a forma de seu corpo enquanto vestia. Eu deitada debaixo de várias camadas de pensamentos. Alguém caminhava em cima do barco e o top-sider do Dudú por um momento apareceu sobre o vidro da escotilha como se fosse uma pintura pop no teto de uma basílica para logo em seguida se juntar ao outro pé saltam do para o cockpit. Não aconteceu nada porque nada acontece num barco parado a não ser os R que eram enrolados pelo sotaque do Dudú enquanto enrolava velas que um dia seriam alçadas e desenroladas pelo vento. Frio e café da manhã com tripulação toda junta. Roberto é a força política com a sua boa educação e aparência tranquila. Maneiramente deixa perceber que agora o barco está amarrado como um cavalo no cais, mas vamos pular muito dentro dele. Diz isso com tanta sutileza que parece que isso só vai acontecer daqui a 50 anos. Depois de discutirem o que tinham a discutir saíram todos me trancando dentro do barco, junto com o frio e os Beatles que saem rouquinhos dentro da garganta do rádio. Eles gritam: __ I’m searching for an unbelievable woman e respondo that I’m searching for a place under the sun. Levanto a cara debaixo da escotilha e o sol desce sobre o meu rosto como um chuveiro, fazendo de minha cabeça moinho de pensamento, pensamento, apenas eu comigo e a hostilidade do barco que não me conhecia ainda. E rezei: Nuvem que tapa o sol que derrete a neve que os meus pesinhos prende, solta o sol para mim que sou mulher diferente, deixei a minha franja na terra. Vieram me buscar para comer pizza na cidade e jantamos no barco comida que eu fiz.
4º dia a bordo. Paulo saiu da cama, mas na mesma hora apareceu um homem que entrou no meu quarto e sem me olhar foi direto ao banheiro para ver a origem da água que sempre aparecia debaixo da privada. Ficou agachado lá enquanto falava sozinho com uma bela voz sem nada resolver porque saiu de lá ainda sem me olhar deixando privada urinando sozinha. Hora do banho. Hora do frio. Hora de querer voltar para o Brasil. O banheiro é quase uma camisa de força e quando você entra lá os ouvidos da tripulação crescem para saber se você really está tomando banho ou se está fingindo , tal é o frio em derredor. Pega no chuveiro com a mão esquerda no sabão com a direita, larga o sabão para temperar a água, pega outra vez no sabão que cai no chão, agacha-se para pegar sabão que escorrega e água começa a esfriar até que ao enxaguar teu corpo está quase gelada. Deixa-se o banheiro cheio de vapor e vai-se enxugar na cabine entre gritos e tremor de dentes. O frio é tanto que todas as picadas de injeção que você tomou na vida começam a te espetar. Cabelos esticados para traz, um banho a menos, marco no calendário. Após o café da manhã saímos para uma velejada com vento de 2 nós. No meio da baia de Oyster Bay Paulo quis ligar o motor, mas pedimos para esperar mais vento. O barco avançava no meio do brilho azul das águas, envolvido de silêncio por todos os lados. Todo mundo envolto em capas impermeáveis entrou para dentro de si mesmo sem nada dizer enquanto milhas passavam correndo e no silêncio líquido gente era apenas um espermatozóide nadando em meio do mar. O azul do céu era riscado continuamente pelo jato dos aviões enquanto pássaros nada aerodinâmicos voavam carregando peixe roubado do mar. Comecei a sentir o vento que chegava esfriando minhas pernas dentro do jeans. O barco abaixou de um lado e avançava a 7 noz. As velas super grávidas captavam nossos olhares. De repente uma cambada o barco não hesitou, virou todo do lado contrário, o Roberto desceu a escada toda torta e foi testar o banheiro da tripulação. Estava fazendo uma violenta água, verificou. De sua boca bem educada saíram palavrões como se fossem perdigotos. Paulo largou o leme com o Dudú e vi suas calças largas descerem a escada com pressa. "Fechem a válvula!" gritou e subiu recolhendo as velas, frustrando-as. Ligou o motor e matou o silêncio que estávamos bebendo. Decepção para Dudú e Roberto. Sem mais cambar o barco chegou ao porto onde a voz do americano já está falando com a voz do Paulo e eu escuto ambas da minha cabine onde escrevo. À noite convidei os 4 homens para jantar no Bacharat’s. Aniversário meu e sai cheia de anos e anéis e pulseiras e me senti uma anã no meio dos 4 gigantes que eram só meus.
5º dia a bordo. Eu e André compramos todas as latas de comida que iríamos comer durante 2 meses de travessia e já a havíamos colocado-as na estiva. Estiva são os buracos que o barco tem para guardar coisas, mas chegou o Paulo comandando e exigiu que nós as desestivasse todas, pois deveriam, além do rótulo, ter escrito na própria lata o nome do conteúdo. Além do mais tínhamos que fazer o mapa das latas, para poder saber onde estavam as sopas, as compotas, carnes, etc. Seriam então as latas colocadas a boreste e não a bombordo como estavam. Foi quando uma das latas caiu em cima do dedo mindinho da minha mão direita, fazendo medalha no canto da unha. Urrando de dor fui ao banheiro por iodo e enquanto soprava o dedo vi que a privada estava para ser substituída. De azul passava o dia a cinza e frio. Sacrifiquei duas latas e no meio da desordem que reinava nos 42 pés do barco, tomamos um creme de galinha que não esfriava nunca. No estaleiro telefonei para Kiko e Sergio e falei com mamãe. Voz de mãe entrando pelo ouvido, o que há de melhor do que isso. Meus olhos encheram-se de lágrimas e quem sabe os dela também. A polícia apareceu esta madrugada gritando Paulo da ponte. Queria prender André e Dudú que avançaram sinal e dirigiam em maior velocidade do que a permitida. Céu da boca de todo mundo cheio de bolhas de queimadura.
Já é o 6º dia e barco continua amarrado no cais como cavalo em obelisco. Previsão do tempo cai como praga em cima de nossas costas. Uma língua enrolada desenrola-se no rádio e daí a dois dias todo o previsto acontece. E o novo profeta e com ele deixamos Paulo saindo eu Dudú e André levando roupa suja para lavar. Pôs-se a roupa na boca da máquina para que ela mastigue, põe sabão como tempero e senta-se defronte a máquina olhando para ela até que acenda pequena luz amarela. – São várias máquinas, muitas pessoas e poucas cadeiras. As que estão sentadas estão hipnotizadas pelo olho da máquina. Não piscam, a máquina seca a roupa. As pessoas obedientes pegam calças, camisas e toalhas, esticam-nas numa mesa dobrando-as antes de colocá-las num saco. Saem de cara fechada após fazerem uma genuflexão. Fui ter o meu cabelo cortado com se diz por aqui e gostei de ter alguém cuidando de mim. E fomos para o Food Tonn, uma grande barriga cheia de latas de conserva comprar comida para o monstro barco que devorou 8 kg de filet mignon, de porco e carneiro, peitos e coxinhas de galinha, salsicha e carne moída. Comemos apenas um hambúrguer no Buds. Voltamos para o barco que balançando nos esperava como mãe aflita, de onde tive de tirar de uma de suas cavidades um dos vestidos que havia trazido. Mas onde se havia ele escondido? Foi achado dentro de um plástico que agasalhava os cobertores rather amarrotados juntamente com as botas mais o xale cheio de buracos para deixar o frio passar que eu deveria usar à noite num jantar em casa de Catherine and Bob. Enchi a pia do banheiro de água fervendo e pendurei o vestido que foi se espreguiçando com o vapor, perdendo todo o amarrotado. Libertei as joias dum saco de veludo onde estavam amarradas enquanto Paulo took the car para irmos a Cove Neck. Já drinkavam os americanos e riam todos já que rir faz bem aos dentes. Tudo divino do canapé ao jogo de dados, todos sentados no chão no fim do jantar, rolando 2 dados enormes de acrílico verde. Comecei perdendo, mas acabei ganhando. Na volta deixamos o carro fora do shipyard, Paulo despiu o casaco e a compostura e eu fui correndo para o barco debaixo de insultos e imprecações. Paulo estava tendo um fit. Catherine havia me perguntado se eu era casada ou não e eu dissera que não, quando ele já havia dito a ela que sim. Quando me enfiei debaixo das cobertas o frio já me esperava na cama e fora o vento soprava com toda a força de suas bochechas tentando arrancá-lo das amarras e barco reagia todo ele tremendo como se fosse um baralho embaralhado por grandes mãos invisíveis. Fico na cama, pensando no banho de amanhã que não quero tomar. O salva-vidas desprendeu-se em cima do meu nariz. Irritada mandei que ele fosse a puta que o pariu e joguei-o nos pés da cama. Lembrei da história do David Nois: o que entendi: Ele estava num barco. Começou a hurricane. O teto do barco saiu. Tudo começou a voar e ele passou 2 horas com uma corrente que prendia seu braço ao mastro para evitar que caísse dentro do mar. Esse cara foi e voltou de Oyster Bay às Bermudas 17 vezes. É um americano que não ri. Só quando perguntei se gostava de samba é que ouvi sua gargalhada. Rápida como a de 1 peru. Por minha vez fui 17 vezes ao banheiro e lá não pude entrar. Um homem mantinha sua cabeça enfiada dentro da privada. Estava escuro e acendi a luz. Quando estávamos almoçando ele passou pela sala segurando a privada acima da cabeça e subiu a escada que levava ao convés transportando-a com cuidado e respeito. O almoço que abri: carne de porco repolho roxo feijão e green salad. Sobremesa. Abri lata de nabo errado e ninguém comeu apareceu 1 americano de calças de veludo cor de morango. Sei que é Domingo porque só nos Domingos, ou melhor, sempre aos Domingos eles vestem vermelho. Veio nos convidar para tomar um drink em sua casa, neste caso Bill’s house, pois é este o seu nome. Sua mulher também Catherine tem furo no queixo e olhos que riem, mas quando encaram o marido olhos fecham a cara e mordem. Monólogos com Bob e Catherine, pois não entendem a mim e eu sinto que até da pé para uma boa amizade. Voltamos para o barco que nos esperava vagindo. Leio Sophia Loren e espero dormir sem sonhar com ninguém.
7º dia, 15 de Abril. Noite de frrrrrio polar. Na véspera tomara um bonine que me fez dormir como uma drogada e ao acordar dei com o barco todo suado de frio, meu cabelo umedecido pelas gotas que pingavam do teto baixo e branco, enfrentei o banho de chuveiro com mão única, água quente se evadindo dando lugar à fria que jorrava sobre o sabão tirando-o do nosso corpo. Páscoa. Roberto telefonou para Martine Barat perguntando se ela não queria ir ter até o barco. Resposta. Ainda ia perguntar ao namorado. O descompasso da falta de bonine tomado há 24 horas foi compensado por um almoço no Pier One em Bayville. A tripulação deu-me um presente: jujubas, nice boys are they! Martine chegou com amigo, mas já não nos encontrou. Foram embora para a cidade a fim de almoçarem e alguém almoçou Martine, pois ela não voltou. Tarde toda sentada na dinette lendo enquanto rapazes dormiam e Paulo esticava mapas riscando papéis, preparando viagem para depois damanhã. A noite grandes pássaros nada aerodinâmicos voavam baixo exercitando vozes como se estivessem miando. Me tiravam do meu sono e eu pensava que fosse Martine que houvesse chegado e que estivesse nos chamando.
8º dia a bordo. Levantei às 5 e meia, pois vamos a New York e vamos tomar trem que passa correndo em estação distante. Tempo húmido fazendo 95% de humidade. Tudo suava de frio como se tudo estivesse dentro de geladeira. Capa azul marinho e branca no corpo, botas pretas no pé, pronta para New York estou.
Volta de New York, dormimos no barco de onde saímos no 8º dia a bordo em direção a Boston, by car. Ida a Banco para sacar dinheiro. Presente comprado para Kiko. Jantar no Old Oyster House onde lagostas foram comidas. No Hotel uma mulher esmurrou a porta do nosso quarto às 7 horas da manhã aos gritos queixando-se de que Paulo passara a noite inteira roncando. Envolto em roncos e paranoia Paulo disse que o que ela queria era trepar com ele. Andamos a pé, vimos a pequena casa onde Paulo morou durante 4 anos e toda hora dávamos com o prédio fantasma todo de vidro, cuja fachada refletia outros prédios ao seu redor, aparecendo e desaparecendo de vista. Voltamos para o barco, já casa nossa, guardei o que havia comprado nos devidos buracos e fiquei escutando o mar mexer debaixo de mim enquanto o vento, em cima tocava harpa nas verticais dos mastros. De cabeça baixa Paulo faz contas. Já estamos quase na saída de Oyster Bay, mas a privada vai ser trocada antes. Jantar em restaurante italiano onde a cara de Paulo tão linda, graças à bebida foi se transformando em escultura etrusca.
10º dia. Tudo enguiçou. Privada saiu pela escotilha enquanto outra pousada em ombros do Peter fez entrada triunfal passando em procissão pela sala, corredor até que foi assentada no lugar adequado, dentro do pequeno quadrado do banheiro. As bombas elétricas enguiçaram e calaram a boca. Uma caixa d’água estourou e o único do bidê do barco foi desembarcado definitivamente. Tem gente no deck furando mastro e o barco entrou em convulsão vomitando remos, tábuas, ferramentas, escadas, âncora, tudo que estava guardado dentro dele. A latrina já está instalada como uma deusa branca no banheiro. Tantas vezes agachou o Paulo que suas calças rasgaram e eu costurei o rasgão no seu próprio corpo com grande tentação de espetar uma agulha no pau do qual tanto se orgulha, mas deixa pra lá, fui andar no estaleiro para esquentar. O Massa que é o dono do estaleiro está aqui com sua jaqueta vermelha, e diante de tanta desgraça, vacilou e riu com uma hiena. André com uma camisa de malha sem manga, é um músculo só, mas completamente estrangeiro a coisas e necessidades do barco. A temporada de regata está chegando e com ela lindos barcos de regata chegam silenciosamente e se prendem ao cais. Aí está ao nosso lado, branco e vermelho, o americano Tabasco. Por dentro não tem nada, é uma barriga vazia. Diante de nós, bem near, um veleiro marrom atendia pelo nome de Cephen. Uma enorme lancha cris craft Ish mastar e o sol batendo em cima de tudo com vento agitando mar, levantando Tabasco que é leve até mostrar o que tem por baixo e que a agua esconde sempre. No Vitória todos os buracos estão sendo vasculhados e homens viram avestruzes com a cabeça enfiada dentro deles, as nádegas viram faces e você os reconhece pela cor de suas calças. Paulo fecha a cara para a tripulação e ri para o Massa e para o Peter. A tripulação fecha a cara para Paulo que me chamou de repente para eu por minha mão tapando 1 pedaço de cano. A única palavra que se escuta dentro do barco é hole e depois a explosão da bomba d’água. Dia infindável que durou 365 horas cheio de homens de jaquetas de plástico colorido invadindo barco desvendando porão, a puxarem do interior tripas coloridas de diversos períneos, a fazerem suturas descabidas em todos os canos. A noite jantar no Uvis, 2 whiskys para animar e a melhor bisque de camarão do mundo. As pessoas lá dentro falavam altíssimo. Frito fedorento fodido fantasmagórico fossento.
11º dia. Lindo e alegre Paulo levantou azul. Vamos sair. O barco todo se agita como um cachorro que abana o rabo sabendo que vai passear. Café da manhã muito pequeno para o tamanho da nossa fome. Tripulação toda pronta no deck, Dudú salta tira as amarras e pega barco andando. Barco sai cortando águas da baia. Velas suspensas, respirando como pulmões cheios. De repente começou a enrolar uma corrente em cima de um dos mastros. Dudú subiu lá transportado por uma cadeirinha, botas e casaco amarelo, fita branca no cabelo gesticulando como um louco, suas pernas viraram alicate mantendo seu corpo colado ao mastro que balançava seguindo o movimento das águas do mar. As velas foram de novo abaixadas, o motor ligado e a chegada novamente ao estaleiro, o barco já reconhecendo o seu lugar diretamente atrás do Cepheu. Na nossa ausência um novo barco se instalou a boreste, Sperrystar. Temperei carne e lavei roupa. Roberto me pediu 500 dólares emprestados, falando baixo para que Paulo não escutasse. André já tinha me pedido 600 e ao Dudú eu dera 500. Só escuto a voz metálica do Massa dando instruções que são ordens. A palavra hole é novamente ouvida vezes seguidas entre seus berros. Acho ser este o motivo pelo qual os homens amam tanto um barco e em inglês barco é she. Tudo bem. Sandwich de salmão com malted milk. Roberto fez uma entrada imprevista, quase rolando os degraus da escada da dinete. Estava tendo um ataque porque o Massa tinha gritado com ele e que da próxima vez ele batia no Massa e vinha correndo para o Brasil, ouviu, Paulo? Paulo disse não ouvi nada, você não está falando comigo, você está fazendo um monólogo. Massa voltou depois do almoço para tornar a gritar e cada vez que grita sua jaqueta fica mais vermelha. Puseram o barco para andar mesmo sem vela enquanto a carne pega tempero e eu leio artigo no Time sobre sexo. Massa está no convés apontando como um profeta. Vejo o sol ruborisando sua jaqueta já colérica. Está provocando iras e Roberto já se esqueceu que deve bater nele. A zanga do Roberto contaminou o ar, começou a fazer um frio facínora. Ao voltarmos sentamos os 5 a mesa e comemos o jantar que a mãe Sonia tinha feito.
12º dia. Ordem de comando: sair para testar barco. Piloto automático, velas, genoa, retranca. Vento a 90°. Leme na proa. Altímetro endoidou. Tripulação vestida de maionese. Chegou a hora de voltar, uma das velas não gostou de ser recolhida e começou a embolar. Paulo vestiu pelas pernas a cadeirinha de lona, esvaziou os bolsos da japona para ficar mais leve e Roberto e André alçaram ele. Nada de anormal, diagnosticou, as ferragens não estão lubrificadas. A cadeirinha desceu com a sua bundinha e tornou a subir com o spray de óleo. Vela está ligado com ereção. Quando desinfla o homem sente um sentimento agudo de impotência. Voltamos cabisbaixos para o estaleiro do Deus Noiss, vulgo Massa, nickname.
13º dia no barco. Manhã tranquila com o desaparecimento de Roberto e André. Dudú não dormiu aqui. Levantei e fiquei nua toda a manhã enquanto Paulo ia ao escritório do estaleiro para falar para o Brasil, a pagar, é claro, ao apagar das luiz. Arrumei cabine tomei banho vesti blusa francesa com calça Sasson e fomos almoçar com Bob e Catherine em Cove Neck. Estavam hospedando casal de amigos ingleses, ela querendo saber o que eu escrevia como se ninguém soubesse escrever enquanto eu respondia olhando o louro do seu cabelo, olhos azuis apavorados com a velhice que já estava tomando conta de seu rosto, mostrando rugas que uma operação plástica marcada para a próxima semana faria desaparecer. Mulher chic e chata, querendo ordenhar minhas tetas a procura de arte sofisticação. Foram conhecer o barco depois do almoço e Catherine embaraçava pernas sem saber com qual delas subia primeiro no convés. Dudú que já caíra não sei quando de um mastro de 11 metros batendo com as pernas no guarda mancebo apareceu com uma gata e se fechou no camarote. Viva a tesão! Mas eu e o Paulo fomos foi jantar no Angelina’s de onde voltamos, Paulo já de pileque, agitado, falando como criança de 8 anos. A medalha no meu dedo doía. Dormi e sonhei com minha mãe e meu pai pobres numa casa grande e suja. Queria dar a eles dólares para que arrumassem a casa e quando acordei chorei salgado.
14º dia a bordo. Véspera de partida, fomos almoçar sem fome em Seathon eu e o Paulo quase brigando por causa de presentes e depois Hicksville com Dudú e seu chulé imune a todos os desodorantes comprados. A roupa de cama onde dormimos há 14 dias foi retirada e levada com milhões de peças para a lavandeira. Veio quase limpa. Arrumei cama e dobrei roupas. Veio o Massa drinkar as 6 da tarde e enquanto engolia whisky ensinava coisas sobre navegação. Dudú começou a ficar triste até que me pediu 25 dólares emprestados. Tripulação comprou rosas vermelhas para mim mais croissants com queijo para despedirmos de Oyster Bay. Abri buracos no barco e guardei calças que havia comprado para Kiko. Paulo sentado à mesa, concentra-se. É o sacerdote da navegação. Eu cheia de chili que comi de manhã escutava as instruções detalhadas sobre a partida de amanhã. Dudú esqueceu balde azul pendurado no alto do mastro.
15º dia. 7 horas da manhã a latrina já suportava o corpo pesado de Paulo. Peguei a minha barriga e comecei a fazer massagem nela com medo de engordar. Tripulação também acordou. Voz do Massa chegando. Todo mundo lavando e escovando convés em cima de minha cabeça. No banheiro, rápido passou pé com meia preta sobre escotilha quase pisando meu aparelho de lavagem. Triste vagina. Onde a tripulação vai, leva um rabo de música e daqui debaixo escutei a voz de Ney de Matogrosso espremendo canção. A medalha no meu dedo muito me amerdalhou ontem, esquentou e latejou e hoje a água que sobrou para mim deu apenas para escovar o teclado. A tripulação prossegue na sua febre de limpeza. Já arrumei a cabine e ao lado das camas estendi uma grade de xadrez marrom e bege para não deixar que caíssemos da cama enquanto estivéssemos dormindo. Sol Sol Sol e só posso sair daqui quando tiver água para banho. Paulo me pagou 520 dólares, agora falta pagar 26.000. Fizemos uma experiência com técnico: saímos pela baia de Oyster Bay e ficou-se fazendo a testagem dos instrumentos. Trabalhou 3 horas seguidas enquanto barco fazia geometria sobre azul do mar criando, círculos, raios, diâmetros, tangentes se hipotenusando enquanto eu, deitava na proa escutava aviões fazerem roncar barriga de céu, riscando com giz de jato mastros no azul. Nuvens chegavam para atrapalhar desenhos e ondas também brancas desmanchavam grafismo que barco tinha cortado no mar. Perspectiva chegava que nem binóculo mostrando vida vivida distante, esquisofrenisando pessoas, dando a gente um terceiro olho, permitindo que nos víssemos entre continentes coesos de personalidades ao mesmo tempo enxergando a si mesmo inteira porém dividida em escaninhos plenos de vivência. É isso, solamigo me aquece more. It’s not enough.
Saímos de Oyster Bay onde passamos mais de um mês às 3 horas da tarde e não pude saber qual dos operários do sheepyard tinha visto a bunda minha nas primeiras páginas deste diário. Foram 3 horas e meia de respeito quando chegamos a City Island. 6:30 levantamos as velas mas o vento fraco exigia o auxílio do motor. Atracamos o barco no melhor estaleiro americano e fomos jantar num restaurante só de pretos.
1º dia de viagem – Vitória sendo desamarrado do cais às 7 e meia da manhã. Joia – Frio – Café tranquilo. Dia cinza, peguei costura para fazer no convés enquanto barco deslizava passeando debaixo da Ponte de Throg Neck onde passamos de automóvel quando fomos a Connecticut em New Canaan, a Boston a semana passada e onde voamos por cima quando chegamos de avião. Sobre as nossas cabeças, gaivotas excitadas pelo movimento de embarcações emitiam gritos de Hitchcock enquanto Bronx e seus edifícios desfilavam a direita do barco sem avesso, nem direito, mas sim a bombordo e boreste. Era manhã fria e a embarcação Manhattan tinha se posto de pé para nos ver passar, população enorme de edifícios de dimensões desmesuradas crescendo como árvores, o Empire State querendo dar injeção no céu. Prédio das Nações Unidas aberto como uma fruta a beira d’água, Hospital onde Eric ficou num quarto andar se recuperando, Prédio onde ficou a Varig num 36º floor, todos eles a nos mirarem enquanto giravam no sentido oposto ao que nós seguíamos. Ao nosso lado tráfego intenso de embarcações protegidas por helicópteros debaixo de barrigas de aviões que enchiam ar de barulho de fita de guerra. Árvores milenares enverdecendo com paciência e sabedoria de gueixas. Manhattan irmã minha, fique de pé até que eu seja levada por esse barco para que jamais possa te esquecer cidade com seiva de gente escorregando pelas ruas, invadindo subways, sendo carregada por elevadores e transportada por elevados, te mastigando quando é você a grande mandíbula, babelisada, deusa eterna! Eterna deusa desaparecendo na penumbra exatamente como me deparei com ela pela vez primeira, surgindo molhada, cinzenta, abrigo do vento, grande, mas não a ponto de atemorizar, Manhattan irmã caçula minha, quase do meu tamanho.
Costurei no convés até às 11 e meia. Foi quando começou a chover molhando a fisionomia preocupada de Paulo no timão, embaçando as lentes do binóculo usado pelo André. Dudú todo de amarelo em pé, pernas afastadas e cabeção para baixo era um grande V invertido na proa. Fui para a cozinha e descasquei 2 lagostas cozidas que tínhamos trazido do restaurante de City Island. Cortei em pedaços, misturei com maionese e abri todos os vidros de tempero para dar gosto. Passei sobre fatias de pão de forma e antes de fechar pus uma página de alface em cada uma. Parece que é bom, mas depois que comi minha mão começou a esfriar e vi que o personagem enjoo estava chegando, abri a boca onde pus 1 bonine e corri para a cama onde dormi hora inteira e aonde estou, cabeça pousada no vermelho do salva-vidas ao lado do ronco do Paulo que destimonado dorme sempre a boreste. Daqui a pouco é preciso ir ao convés lembrar ao André que é preciso tirar a carne do freezer. Jantar saiu perfeito, primeiro fiz o meu beef depois comi feijão, arroz e cenoura para poder fazer os beefs dos outros sem esfriar. A bomba de água doce enguiçou em pleno mar e a de água salgada só funciona quando apanha. Às 8 da noite Dudú começou a dançar um rock defronte do motor. Seus 1,90 curvavam para frente e para traz enquanto seu corpo jerkava para a direita. Chamou Paulo! Que desceu os 4 degraus da escada que comunica a sala com o convés, suas pernas apressando calças de borracha amarela seu torso inflando blusão também amarelo, boné que eu fiz azul e beirada amarela, chegou perto do motor fez uma genuflexão e só ouvimos um brado: Água no porão! André correu para ver, tropeçou na lata de lixo espalhando-o pelo tapete, todos os 3 de macacão amarelo subiram de um só pulo os 4 degraus da escada e foram por em cima a bomba manual para funcionar. Jogo rápido: a água foi retirada do barco e foi jogada no mar. Dudú disse alguma coisa ao Roberto que estava no leme e só ouvi imprecações. Paulo com seu ouvido de médico perscrutava os 6 buracos do corpo do barco para saber de onde é que vinha a água. Hoje não descobriu, vamos ver se dá amanhã.
2º dia. Motor desligado o barco vai navegando a 4 nós. Mar áspero. Ainda não encontramos o Gulf Stream mas o monstro pode ser que se apresente hoje a tarde. É uma grande corrente d’água que tudo arrasta e como uma serpente matreira, não tem lugar certo para passar, tal é a sua sinuosidade. Tem dias que está calma, você percebe que está em cima dela só porque põe a mão dentro dela e vê que está quente. Mas quando encontra um vento contra, ela se enfurece contra a grande massa de ar que tem por cima dela e luta contra ela e contra o barco, maltratando todas as coisas que estejam no seu caminho. Não temos mais água doce, logo o líquido que temos engarrafado está racionado. Barganhei duas garrafas de cerveja por duas de suco com André. Paulo e Roberto dão quarto juntos enquanto Dudú e André descansam. Café da manhã já foi diferente do que estava escrito no papel não havia possibilidade de ser executado e foi comido com enjoo. Fui para o convés e lá deitei cochilando com o embalo da grande cadeira de balanço que é o barco. Uma pequena pomba branca que estava voando em companhia de várias outras, perdeu o caminho de volta e não tendo onde pousar decolou em cima do barco e ofegante procurou abrigo contra o para-brisa do cockpit. Lá está fazendo cocô, o que muito irrita a tripulação. Todas as carnes foram tiradas do freezer para ver onde tinha se escondido a galinha que iríamos comer com curry hoje à noite. Barco sujo e sem água. Meu intestino parou e tenho inveja do da pomba e do do Paulo que anda continuamente. O almoço também não pode ser o que Paulo escreveu quando estávamos em terra firme, no Brasil, na Rua Assis Brasil. O tempo começa a fechar cara e vai ficar mau. Vento contra empurrando com raiva as 52 estrelinhas azuis mais as 6 listras vermelhas da bandeira americana na popa do barco. Porão cheio de água salgada já molhando tapete do corredor e da sala. Acordaram Paulo para ver e saíram todos correndo de amarelo, abrindo buracos e acionando bombas para secar o barco. Vento de 50 noz jogava barco para cima sacudindo-o enquanto que ........ Tocadas por vara mágica todas as coisas começaram a voar e a galinha cujas asas amarelas estavam cheias de curry. O saco de cebola amarrado em cima do fogão era um punching-ball apanhando de punhos invisíveis. Livros cheios de palavras saltavam de prateleiras. O timoneiro deu um vacilo, as velas cambaram, o barco deitou subjugado pelos 25 metros da onda que o levava nas costas, horizontalizando a vertical. Mais gritos do que sussurros e barco novamente se recompôs verticalizando a horizontal. Recolher as velas, foi a ordem, e o motor começou a reclamar dando menos rotação ao mesmo tempo que exauria pequeno gemido que ouvidos mais treinados que o meu percebiam. Todos nós fomos chamados ao convés enquanto Paulo, segurando sua voz explicou ser o mais sensato voltarmos. Estávamos a 4 dias das Bermudas e as condições do Vitória não eram nada excelentes. A bússola rodou 180 graus e eis-nos voltando em direção a New York onde chegaríamos daí a 72 horas! Paulo adoeceu. Ficou tonto e vomitou traqueando todo o barco. Depois que a grande montanha de carne morena caiu na sua cama só teve mesmo é que dormir pois não pode render quarto de tal maneira estava fatigado. Tudo continuou voando pelos ares como em fita de mistério, até os hábitos de higiene que não podiam ser cumpridos por falta d’água e por torneiras incapacitadas das suas funções, e também os túrgidos salva-vidas como grandes hemorroidas sangrentas, presos pelo pé, cabeceavam de encontro a paredes e teto. Pedi ao Paulo que me ajudasse a tomar banho. Tirei todas as peças de roupa na cabine e dentro do exíguo espaço do banheiro tentei me ensaboar com shampoo que é o único sabão que espuma com a água do mar. Mas esta não veio e aos vitupérios terminou a minha única tentativa de banho. Passei várias horas na cama, não se o nome nem número do dia. Está claro. As rajadas são de 20 nós. Barco todo adernado para boreste. Minha cabeça está deitada virada para a proa e meus pés apontam para a popa. É difícil levantar sem tropeçar e cair. Da cama pedi biscoito e lá me levaram de chocolate. Reunindo grãos de coragem me levantei para ir ao banheiro. Tudo voava e batia dentro do barco. Olhei bem em que canto estava a privada esperando pelas minhas nádegas. Corri em direção a ela e o barco cambando me pregava truques me jogando contra ângulos de banheiro exceto aquele onde estava a privada, privando-a do peso do meu corpo já todo manchado de roxo, paciência, withmigo tudo bem. Tornei a deitar li e dormi e quando acordei eram 9:30 da noite. Olhei no espelho, estava a metade de mim. Até Paulo começa a emagrecer e o nariz dele cresce. Desligou o motor que estava querendo parar e o barco segue molhando barriga no mar, a madeira toda ela estalando como se estivesse sendo queimada, misturada às vozes da tripulação que fecha os olhos de cansaço e o zumbido dos noz nas rajadas do vento. Barco balanço cheio de roupa suja. Perguntei pela pomba. Quebrou o pescoço de encontro ao para-brisa disseram os rapazes com cara de assassinos. Fui comer sem fome bebi e lavei os dentes com água tônica. Paulo sentado na mesa de navegação punha diante de si um aparelho com um grande nariz cinzento. Concentrava-se a ponto de seus cabelos tornarem-se mais brancos. Seu rosto moreno onde barba também branca nascia no queixo acompanhava a direção do aparelho colado aos seus ouvidos de leste a oeste. Seus olhos apicassados ficavam fixos como se estivessem esperando uma mensagem do além. 86 graus gritava para o timão. Era o Dudú quem estava lá. Falou um filho da puta e pediu desculpas. Aviões começam a serem vistos, acendendo luzes no céu. Gaivotas chegando brancas como fantasmas. Mar melhor, pode crer. Vou me deitar com a alegria das crianças que são postas novamente no berço. Noite amena com pouco sono, a grade de pano impedindo que eu caísse de costas sobre tapete do barco. Fui acordada aos gritos e subi rapidamente os degraus da escada que conduzia ao convés. Estátua da Liberdade, braço erguido deixava que se visse a fortaleza de seus músculos e ventre coberto pelo panejamento da túnica. Seu braço alcançando balão em forma de grande pássaro que a sobrevoava, trazendo no bojo de sua barriga crianças e adultos que acenavam. Os longos cordões umbilicais das pontes passavam sobre nossas cabeças desdobrando a sua estrutura em desenho móvel e logo depois irmã Manhattan se desenrolando sempre no sentido inverso ao do vencido Vitoria, mostrando em cada desdobrar do seu leque seus buildings incomensuráveis, cheios de janelas que refletiam a luz do sol, árvores já verdes debaixo das quais carros corriam, pontes suspensas com curvas de axilas sobre as quais aviões ciscavam céu, barco maneiro roçando cidade para que eu pudesse lambê-la inteira, sussurrando em cada orifício palavra de amor azul Manhattan! Novamente os tijolos de Broklin com seus milolhos a nos olharem. City Island chegando com seu imenso sheepyard cheio de dentes segurando-nos nos seus cais. Vou a cabine sacudir cobertores que ainda dormem, arranco os lençóis livrando-os do jugo dos colchões e quando levanto a espuma sobre a qual dormíamos verifico que ambas estão molhadas. A água tinha chegado à nossa cama sem assustar-nos com discrição. Paulo salta do barco e a tripulação desaparece no cais a procura de um banheiro. Ele me dá a mão eu pulo, a terra estava mais firme do que nunca. Queres ver que barco lindo está aqui, pergunta ele. Lógico e subi no convés do Campbel. A doença do mar me pegou. Fomos até uma cabine telefônica onde o Paulo ficou 40 minutos contando viagem para Robert Garland e ligando para o Massa. Uma preta cansou de esperar e sentou no meio-fio. Atravessei a rua e me postei debaixo de uma figura de proa defronte de um bar. Era uma mulher da época Vitoriana comandando o leme de uma embarcação. Sua cintura fina torcia-se com o esforço para manter-se ereta no meio da tempestade, uma das suas mãos seguravam firme atrás do seu corpo, uma perna pousada mais alta do que a outra, o vento mostrando suas botas pretas fincadas na proa eriçando os babados brancos de sua saia de baixo escondida pelo azul da de cima. Seus cabelos ondeavam, seu queixo levantado era uma resposta ao desafio do seu olhar. Olhei para ela sabendo que nunca mais a veria. O barco agora nos levaria de volta a Oyster Bay. E eu de novo na cabine comecei a abrir buracos para empacotar minhas roupas. Sinto carinho pelas camas úmidas e apenas pelas cabeceiras, pelo teto baixo onde tantas vezes machuquei a minha cabeça, pelas paredes que souberam conter a voracidade do mar contra a audácia dos 19 anos do Dudú, contra os musculosos gestos do barbudo André, contra as boas maneiras do genioso Roberto, o grande amor do Paulo por ele mar, e sua xenofobia por mim, espiôa. Meus olhos passaram por toda a cabine. Pena não ser eu sportman ou masoquista para prosseguir viagem. Adeus cabine minha onde Paulo vai dormir se masturbando de vez em quando até chegar ao Rio.