Sonia Lins
O homem está preso no cárcere
Olha para fora.
Tudo é azul e ele se diverte
Há grade nos quadrados
Ele olha para fora como um cavalo numa cocheira.
Seu bigode cresce – errante – se enrosca pelas verticais e horizontais –
Em cada extremidade nasce uma flor azul. Ele está preso
É a realização.
Lucidez é comprar pastilhas de insônia nas farmácias. Cuidado, elas matam se tomadas em excesso como qualquer soporífero.
A loucura é um meio de comunicação violento porque é direto.
Assim como há um banco de sangue, outro de olhos, de leite e de esperma, devia haver um banco de clarividência, outro de ócio, de angústia e de estupidez. (este seria o menos solicitado e, no entanto, o mais pronto a fazer empréstimos). Mas não há nada disso. Não há nada a captar. O homem é um dominado. É racionado.
Deus, não somos iguais, eu sei. Mas sou sua prima, eu sinto.
Sentir é orgânico. É ser alga – unicelular.
Estamos na fase sanduichal. Há terra em cima de nossas cabeças e abaixo dos nossos pés. Tateamos procurando a superfície e o equilíbrio.
O vegetal é um herói especializado.
Acordei no escuro e escutei o ruído do meu relógio. Ele está com taquicardia.
Está na hora de se desfolhar dos outros – eles nos tragam –
Oh mulher de boca aberta e vermelha, ventruda, afasta-se.
Só – palavra inadequada, escreve-se com duas letras.
Infeliz homem feito máquina – obrigado a entrar na órbita da Terra e aí permanecer satélite. Quero trocar o dia pela noite – Desmanchar o embrulho que está feito – desordenar a ordem – morram as paradas – mas não quero organizar a desordem.
Precavenha-se contra a memória – ela é um amortecedor – nos guarda dos impactos – é uma força centrífuga e peluda que nos leva para dentro de nós. É a nossa caixa de gordura íntima – memória espiral viciosa.
Vamos bater as claras do nosso pensamento com a espiral da nossa memória?
Saber nadar – deixar a superfície – chegar no umbigo das coisas – ficar presa pelos cabelos no fundo dos pensamentos – voltar à tona – também é vantagem.
O elogio é mais castrativo do que a réplica – funciona como ponto final – não me deem nunca um ponto. É o que há de resumo máximo sobre a terra.
Para Deus a Terra também foi um ponto.
Descobri que o tempo está emprestado para mim. Seja ele indicativo ou subjuntivo.
Me deem tempo, então. É preciso deixar alguma coisa feita. Haverá refeição ou apenas haverá fastio? Até onde nos leva o bonde do preconceito? Onde é o final da linha? Pois quero descer. Ou já desci e estou a pé? O iogue resolveu seu problema sentado. Ele sentou para pensar ou por já ter resolvido em pé o que deveria fazer?
Deverei ser ioga? Não, espirro no sereno.
O ioguismo é a dilatação máxima dos poros – é o homem incorporando a natureza – é o homem waffle, cheio de buracos – é sentir o vento passar através deles sem assobiar.
Cogita-se em morrer e não em nascer e conceber. No entanto, são todos verbos da 2ª conjugação.