Sonia Lins
Ele acordou com o corpo coberto de pelos e bocejou. Insuflou o tronco de ar e expeliu-o ondulando o ventre abaixando e levantando as costelas como 1 fole. Os olhos quando não eram humanos pareciam os de 1 quadrúpede. Por baixo deles a boca se oferecia como uma bandeja e o nariz tinha uma forma feita às pressas como se Deus tivesse se esquecido de fazê-lo e ao verificar a sua falta apanhou 1 pouco de lama, amassou-a e à distância, arremessou-a no meio da cara. Era 1 nariz com duas ventas e cheio de furos em cima. 1 nariz grande e que dava vontade de ser puxado porque grosso. Suas pernas eram fortes o suficiente para arcarem com o corpo que começara a alargar onde não devia e na cabeça embranqueciam cabelos. Era a imagem de Deus mas parecia mais o Padre Eterno ou então tinha 1 ar do Ano Velho sem a foice. Acordado, a luz doeu-lhe nos olhos e para defender-se do desconforto, apertou-os. Dormira porque bebera. Levantou-se e dirigiu-se à porta pequena para o tamanho dele. Contudo conseguiu passar e ao sol sua figura apareceu como 1 close-up. Por baixo dos cabelos que lhe cobriam o corpo não com igualdade, mas com preferências por zonas, todo ele era da mesma cor como se sua pele fosse uma meia de mulher que o vestisse por inteiro. Levantou os braços e apoiou as mãos na cabeça. O sol esquentou-lhe as axilas produzindo uma febre artificial. Olhou para dentro onde conversavam mulheres em baixa voz. Não eram orientais mas delas ele só enxergava os olhos, todos eles voltados para ele e sussurravam tampando a boca com as mãos. Dormira porque bebera, bebera porque amava. As mulheres eram dele, uma era sogra, outra esposa e as outras duas cunhadas. E ele era delas e com os olhos elas queriam arrancar-lhe a meia de carne que lhe vestia o corpo e verificar o que havia, pois alguma coisa de titubeante se instalara na atitude dele. E as 4 orientais moviam os olhos sobre ele, como se com eles descansassem pedaços de sua pele. Amava, bebera, dormira e sonhara. Não se lembrava com que e olhando as mulheres que olhavam achou-as cinzentas de sombra e percebia-lhes a agitação pelo movimento que as pernas faziam debaixo das saias inflando-as. Um enfado subiu-lhe do estômago e as rugas entraram-lhe por dentro da cara e em vez de rugir ele cabeceava enxotando algum pensamento. E em direção a casa das mulheres cinzas encaminhou-se. Vinha sozinho, mas seu andar era o de quem anda em meio a multidões, pois vacilava 1 pouco e dava de braços como se acotovelasse e seus passos ressoavam como legião. Em volta de sua cabeça onde muitos cabelos já eram brancos voavam vozes como moscas e ele avançava com seus pensamentos ondulantes era como 1 elefante que talvez destruísse a casa onde conversavam os olhos das mulheres e foi assim que elas os abaixaram quando ele se aproximou.