Nos guardados de Sonia Lins, em um envelope pardacento, textos manuscritos e datilografados aguardam um leitor. Muitos deles são fragmentos; outros, ensaios que ganhariam versão definitiva nos livros de Sonia. Mas alguns são textos de maior vulto e nunca publicados, apresentados pela primeira vez aqui.
Veja ao lado 25 desses manuscritos, entre poemas, contos, fragmentos, uma história escrita para o neto e um diário escrito durante viagem de barco realizada com o companheiro Paulo Albuquerque, em março de 1979. Alguns trechos do diário foram reproduzidos na biografia Sonia Lins Se é para brincar eu também gosto, de Marcel Souto Maior. Com seu olhar irreverente e crítico, Sonia não poupa a si e nem ao companheiro nas descrições do cotidiano a bordo.
Os demais textos são narrativas ficcionais ou poéticas, em que a escritora experimenta (com brilho) as suas habilidades. Em todas, prevalecem o humor e o olhar característico de Sonia Lins, que injeta irrealidade nas descrições das situações mais banais, desconcertando o leitor. Um dos destaques é o texto satírico em que Sonia imagina o nascimento de Cristo no Brasil, repleto de referências às personalidades dos anos 1950, como o presidente Juscelino Kubitscheck e o ministro San Tiago Dantas.
Foi mantida a grafia original de Sonia, onde letras são trocadas (o “c” pelo “k”, por exemplo), números usados como artigos e palavras justapostas para fazer novos vocábulos. Partes de História de Personagem parecem estar faltando, o que foi indicado por reticências.